No auge do lockdown, em plena pandemia, todas as atividades paralisadas, o contato social extremamente restrito, e a obra do Solar de Laranjeiras parou completamente, dai eu comecei a cozinhar para matar o tempo, decorava, mudava coisas de lugar e assisti praticamente todos os filmes disponíveis no netflix.
Percebi que eu não conseguia viver sem arte, acho que consumi todos os vídeos de artistas, lives e filmes tanto no Globoplay como na netflix.
Foi então que me deu um insight de comprar pincéis, peguei minhas tintas velhas, comprei uma tela, esbocei e pintei em menos de três dias um quadro de flores.
Comecei a buscar molduras em madeira maciça esculpidas em antiquários, feiras e leilões que combinassem com a decoração do Solar de Laranjeiras.
Foram muitas molduras que restaurei e fiz a douração com folha de ouro, que acabei perdendo as contas, praticamente chegaram primeiro que os quadros, e a temática que escolhi inicialmente para essas molduras era decorativa.
Foram muitos quadros de pintores famosos que fiz uma releitura, estudando as paletas de grandes artistas como o holandês Vermeer, o alemão Franz Xavier Winterhalter, ou seja todos eram inspirações, enquanto eu pensava em uma decoração temática para agregar a decoração do Solar.
Até que eu me apaixonei pelas decorações que consegui criar no Solar, e comecei a me inspirar nos ambientes que criei.
Num movimento de doar o Busto da D. Déborah Bentes Mendes de Moraes para a cidade do Rio de Janeiro, precisei fazer uma pesquisa minuciosa sobre sua vida e seus feitos pela cidade do Rio de Janeiro, provando que ela era merecedora de uma homenagem que não a vinculasse ao marido a quem foi submissa toda a vida.
Então chamei uma série de mulheres que pousaram para um ensaio no Solar para darem vida a muitas mulheres incríveis, assim como a D. Déborah, outras mulheres mereciam ser pintadas.
O mais interessante é que estas mulheres chegaram até mim, por sua história, pelo netflix, pelo globoplay, através de uma matéria, ou mesmo um sonho, foram muitas mulheres, e todas foram mulheres brilhantes que fizeram história, mas foram abafadas pelo machismo da época.
Esse trabalho era praticamente uma pictografia mediúnica.
Dai após estudar muitas paletas de pintores, criei uma identidade onde retratava grandes mulheres nos ambientes que já estavam prontos no Solar de Laranjeiras, com vestimentas fazendo alusões ao passado e daí a coisa começou a fluir.
Foram muitas mulheres que escolheram ter suas histórias contadas através da minha pintura, das cores e também de suas mensagens.
Foi um trabalho que amei fazer.
Antes dos quadros fiz as fotografias das modelos nos ambientes, mas faltou o figurino épico, onde consegui emprestado a Liliana Rodrigues da Fazenda São Luiz da Boa Sorte o vestido da baronesa e alguns looks.
Mas não parou por ai, como eu fiz todas as cortinas do Solar de Laranjeiras, tinha alguns tecidos, mas nunca tinha feito nenhum vestido, então resolvi aprender e fui pesquisar na internet como fazer.
Foi assim que surgiu o vestido rosa usado bastante nas fotografias, e hoje exposto em um dos quartos do Solar de Laranjeiras.
E assim surgiu a série “Mulheres Incríveis que não tiveram voz”, inspirada em mulheres que foram incríveis para sua época, fizeram a diferença, mas ficaram nos bastidores de um mundo machista onde a mulher sempre estava no segundo plano.
Só que eu não sabia que eu também estava me sentindo sem voz, vivendo aquele momento na pandemia em um relacionamento onde não fui feliz, não me sentia valorizado e muito menos com poder de fala, foi onde me vi no mesmo local onde estas mulheres tinham sido colocadas, por isto quis tanto fazer justiça a elas, pois fazendo isto me sentia também justiçado por tudo que me permiti viver.